Escuridão.
Frente á escuridão, caminhava passo a passo. Ao longo da minha caminhada, a respiração era cada vez
mais ofegante e os meus passos mais e mais
pesados. Sentia-me encurralada e parecia que caminhava sobre uma passadeira rolante sem nunca sair do meu lugar. Sabia que
não tinha medo do escuro, mas como quase todos os seres humanos, desde o início da minha caminhada, à qual não sabia o motivo para a ter começado, parecia
ser seguida. Contudo, não tinha coragem de
olhar para trás.
Era
assustador imaginar o que podia
encontrar atrás de mim: entre tantas
figuras, tantas possibilidades, encontrar apenas escuridão era uma
possibilidade quase nula. Mas, também graças
à escuridão profunda em que me encontrava e às voltas que
sentia ter dado ao longo da minha enorme caminhada encontrar escuridão
seria o mais provável quando me virasse. Talvez, até já me tenha virado antes
sem dar conta, por isso encontrar
escuridão parecia-me agora uma possibilidade maior, pois não iria ver nada através dessa
densa escuridão mesmo que houvesse atrás
de mim, seguindo-me como uma sombra, algo ou alguém.
Mas
também podia parar e se, sim, houvesse
uma sombra que não fosse a minha a seguir-me, perceberia
imediatamente. Afinal, se não vejo através daquela escuridão mais ninguém podia
ver e essa sombra chocaria
em mim tal
como uma pessoa que quando é levada pelo ritmo da cidade e pára, seja por que
motivo for, encontra alguém
que colida com ela pois esta também ia seguindo o ritmo da cidade tal como uma melodia
onde pausas são inesperadas ou então representam o fim da mesma.
E se
decidisse parar, e algo ou alguém
colidisse comigo? Como reagiria? Ou melhor, como
seria essa figura? Que me faria? Ou será que também caminhava como eu: na escuridão sem
saber por anda nem para onde vai?
Pensando
em todas essas hipóteses o melhor e o mais seguro
era não virar-me para trás e também o mais seguro era seguir em frente e não parar, apesar
da fatiga ser maior e já se começar a
apoderar de mim. Mas nunca poderia parar. Pelo menos enquanto não se fizesse luz.
Envolvida nos meus pensamentos, não me dou conta que abrando o meu ritmo. Agora este era demasiado lento
e, sem o querer, tira todas as
minhas dúvidas. Algo me seguia e agora estava envolvendo o
meu corpo. Parecia cimento
que começa por prender-me o movimento dos pés
deixando-me imóvel e aos poucos e poucos vai
mobilizando todo o meu corpo até chegar ao meu pescoço. Aí começo realmente a
desesperar. O que seria
aquilo? E o que me estava a fazer? Se me cobrisse a cabeça eu morreria? Ficaria
imóvel? E depois disso, será que sentiria o tempo passar ou era mesmo morte
certa? E como é depois da morte: é um sono daqueles em que se vê tudo preto ou
há vida ou algo depois da morte? Aquela figura já
me
imobilizara a boca e toda a parte da cabeça. O fim estava próximo e o pânico dos meus pensamentos bem
presente até que...
...acordo. Não passara de um pesadelo!
Ainda era cedo. Deveriam ser umas cinco horas da madrugada pois já
havia no céu uma ligeira claridade mas tão pequena que era incapaz de impedir o
sono de alguém. Recuperei do sobressalto. Não percebia o porquê daquele sonho
nem se ele teria algum significado, mas estava tão cansada que acabei por
adormecer de novo.