segunda-feira, 2 de julho de 2012


Escuridão. Frente á escuridão, caminhava passo a passo. Ao longo da minha caminhada, a respiração era cada vez mais ofegante e os meus passos mais e mais pesados. Sentia-me encurralada e parecia que caminhava sobre uma passadeira rolante sem nunca sair do meu lugar. Sabia que não tinha medo do escuro, mas como quase todos os seres humanos, desde o início da minha caminhada, à qual não sabia o motivo para a ter começado, parecia ser seguida. Contudo, não tinha coragem de olhar para trás.
Era assustador imaginar o que podia encontrar atrás de mim: entre tantas figuras, tantas possibilidades, encontrar apenas escuridão era uma possibilidade quase nula. Mas, também graças à escuridão profunda em que me encontrava e às voltas que sentia ter dado ao longo da minha enorme caminhada encontrar escuridão seria o mais provável quando me virasse. Talvez, até já me tenha virado antes sem dar conta, por isso encontrar escuridão parecia-me agora uma possibilidade maior, pois não iria ver nada através dessa densa escuridão mesmo que houvesse atrás de mim, seguindo-me como uma sombra, algo ou alguém.
Mas também podia parar e se, sim, houvesse uma sombra que não fosse a minha a seguir-me, perceberia imediatamente. Afinal, se não vejo através daquela escuridão mais ninguém podia ver e essa sombra chocaria em mim tal como uma pessoa que quando é levada pelo ritmo da cidade e pára, seja por que motivo for, encontra alguém que colida com ela pois esta também ia seguindo o ritmo da cidade tal como uma melodia onde pausas são inesperadas ou então representam o fim da mesma.
E se decidisse parar, e algo ou alguém colidisse comigo? Como reagiria? Ou melhor, como seria essa figura? Que me faria? Ou será que também caminhava como eu: na escuridão sem saber por anda nem para onde vai?
Pensando em todas essas hipóteses o melhor e o mais seguro era não virar-me para trás e também o mais seguro era seguir em frente e não parar, apesar da fatiga ser maior e já se começar a apoderar de mim. Mas nunca poderia parar. Pelo menos enquanto não se fizesse luz.
Envolvida nos meus pensamentos, não me dou conta que abrando o meu ritmo. Agora este era demasiado lento e, sem o querer, tira todas as minhas dúvidas. Algo me seguia e agora estava envolvendo o meu corpo. Parecia cimento que começa por prender-me o movimento dos pés deixando-me imóvel e aos poucos e poucos vai mobilizando todo o meu corpo até chegar ao meu pescoço. Aí começo realmente a desesperar. O que seria aquilo? E o que me estava a fazer? Se me cobrisse a cabeça eu morreria? Ficaria imóvel? E depois disso, será que sentiria o tempo passar ou era mesmo morte certa? E como é depois da morte: é um sono daqueles em que se vê tudo preto ou há vida ou algo depois da morte? Aquela figura já me imobilizara a boca e toda a parte da cabeça. O fim estava próximo e o pânico dos meus pensamentos bem presente até que...
...acordo. Não passara de um pesadelo!
Ainda era cedo. Deveriam ser umas cinco horas da madrugada pois já havia no céu uma ligeira claridade mas tão pequena que era incapaz de impedir o sono de alguém. Recuperei do sobressalto. Não percebia o porquê daquele sonho nem se ele teria algum significado, mas estava tão cansada que acabei por adormecer de novo.