segunda-feira, 11 de junho de 2012

O começo - 2


Espaço aberto, foi o que encontrei ao abrir a porta! Ao contrário do usual a porta principal não dava entrada para a frente da habitação, mas sim para um dos lados da casa, como se aquela se tratasse de uma porta secundária. Ao abrir a porta, avisto um pequeno balcão com um fogão e um forno a lenha, aquele em que eu adorava, em dias de inverno, aquecer-me! Mas só ao atravessar a porta, dando uns cinco passos para frente é que percebo a fantástica estratégia que os meus pais aplicaram! Aquela porta principal não deveria estar melhor adequada, pois ao entrarmos parece-nos ser uma casa vulgar mas quando olhamos em nosso redor é que nos apercebemos da fantástica estrutura arquitetónica ali feita! Era fantástica!
Ao desviar o meu olhar para a minha esquerda deparo-me com a “sala de jantar/estar”. Vejo um pouco mais ao lado outra porta e mesmo ao lado dessa porta umas escadas em caracol que davam acesso ao andar superior da casa que era como que uma varanda interior, cobrindo toda a sala e dando vista para a cozinha!
Decidi ir explorar! A sala que estava ao meu lado era simplesmente soberba! Parecia que eu mesma já a teria imaginado alguma vez! Com uma lareira gigante a sala apresentava-se frente à mesma com uma mesa de madeira de carvalho, que parecia ter sido já usada num palácio devido à sua dimensão e aos minuciosos detalhes que apresentava! O mais impressionante é que estava em excelente estado, apesar de ser usada semana após semana por diversas pessoas! Penso que os meus pais conseguiram mais do que um simples lar de repouso. Eles conseguiram criar um lar que é respeitado! E na minha opinião, é muito importante respeitarmos o nosso lar! É lá que passamos importantes momentos da nossa vida, desde uma pequena conquista, a uma discussão, desde um carinho, a um abrigo nas tempestades…que somos nós sem um lar?! Penso que nada, ou muito pouco!
Continuei a percorrer a sala, no canto esquerdo desta encontravam-se pequenos sofás, tão baixos que quase poderíamos dizer estarmos sentados no chão, e à frente destes estava uma pequena mesa que eventualmente seria para pousar o comando da TV ou um copo com bebida, ou até um balde de pipocas para se saborear enquanto se via um filme. Sentados àquele nível era possível termos a sensação de estar num cinema! E eu nunca estive num, apenas os conheço pelos livros! Mas agora, poderia desfrutar do prazer tão falado de se ver um filme no cinema! Eu tinha o Meu cinema particular! Sentei-me num dos sofás, respirei fundo, ainda tinha muito para ver! Fitei os meus olhos no chão e encontrei um lindíssimo tapete, daqueles que parecem vir da Índia! Fiquei fascinada! Queria vê-lo melhor mas não me atrevi a arrastar a mesa com medo de o estragar! Deixaria isso para amanha! Decidi ir ver o resto da casa. Ia dirigir-me para a porta desconhecida no canto direito da sala, mas fico presa à vidraça que me dava vista para o encantador jardim traseiro. É impossível não prender o olhar naquele jardim…e de repente, dou conta! O vidro leva-me como que ao passado e recordo-me do jardim da minha infância. À vista de todos os meus vizinhos, recordo-me do dia em que baloiçava no meu baloiço, que era um momento em que realmente me sentia bem e de ter levado com uma garrafa que acertou no baloiço, desfez-se em cacos e infelizmente me acertou numa perna que estava destapada pelo vestido devido ao impulso que o ar fazia. Desde esse dia que o baloiço deixou de existir. Desde esse dia que deixei de brincar naquele jardim…de um momento para o outro sou como que puxada para a realidade e agora estava de novo a olhar para o pacato jardim, longe de todas as pessoas maldosas. Sigo o percurso inicialmente pensado, sigo para a porta que parece representar algo de misterioso pois faz uma pequeníssima abertura em forma de trevo invisível para o lado de dentro. O que estaria no outro lado daquela porta? Tento abri-la, mas como está perra dificulta-me a ação. Abro-a…e…
…um casa de banho! Claro! Todas a as casas precisam de um WC senão era impossível uma pessoa estar lá! Aquelas aberturas devem servir de sistema para a circulação do ar daquele compartimento. Não via uma casa de banho tão original desde que fui com 7 anos ao psicólogo e o interior de o WC de lá estava estampada cheia de caras enormes a sorrir e a olhar para mim, o que me deixou bastante constrangida na altura! Esta era também muito original, tinha uma banheira muito antiga pintada em cor de pérola sem qualquer resguardo para quem tomar banho e o chuveiro que tinha um ar muito antigo, parecia ser o chuveiro que existia na casa da avó, feito em bronze. O lavatório tinha um espelho que estava dentro da parede, sendo impossível pegar-lhe, pois era como parte da parede, tal como o pequeno armário que também estava no interior da parede. Penso que esta ideia de meter as coisas incorporadas na parede foi excelente por parte dos meus pais, pois assim ninguém poderia levar embora, já que a casa de banho (tal como parte do andar de cima, com os quartos) não tinha qualquer sistema de vigilância.
Vista a casa de banho subi as escadas que me deram acesso a um compartimento que pessoalmente, achei maravilhoso: uma pequena saleta com quatro cadeirões de pele, uma estante cheia de livros e um pequeno bar. Era definitivamente o espaço mais resguardado daquela casa, tanto pela localização, afastada do resto dos compartimentos e o único com quatro paredes, como pela sua discrição. Ali parecia ser um lugar destinado apenas a assuntos importantes!
Ainda nessa espécie de sala de culto havia ligação para um corredor onde era possível vermos a cozinha e a entrada principal. Reparei no grandioso candeeiro que iluminava toda a casa no andar inferior! Era feito todo ele em metal que agora parecia adquirir uma cor ferrugenta e tinha pequenos arcos virados simultaneamente para o interior e exterior do candeeiro. Deveria ter pelo menos uma tonelada! Parecia ser o candeeiro de um salão de festas de um castelo de outras eras! Fiquei a deslumbra-lo mais alguns minutos e fui espreitar os restantes compartimentos do andar superior. Eram dois quartos: um de casal e outro com várias camaratas. Ambos eram presenciados com uma vidraça que ocupava toda a parede que estava defronte à entrada dos mesmos! Tinham vista para o jardim e para o exterior. Ninguém poderia ver o interior, como era hábito naquele lugar, pois os vidros eram refletores no lado exterior.
Tive de admitir. Os meus pais fizeram um trabalho extraordinário. Nunca me tinha perdido numa casa. Mas nesta sim, perdi-me no seu encanto. Sim, agora acredito, os meus pais não transformaram esta casa numa nova casa, mas sim transformaram esta casa num lar, num lugar onde todos se sentem bem, independentemente de lhes pertencer ou não! Eu própria que não reconhecia a minha casa, sentia que estava nela, que aquele era sim o meu lar!

Nenhum comentário:

Postar um comentário