Espaço aberto, foi o que encontrei ao abrir a porta! Ao contrário
do usual a porta principal não dava entrada para a frente da habitação, mas sim
para um dos lados da casa, como se aquela se tratasse de uma porta secundária.
Ao abrir a porta, avisto um pequeno balcão com um fogão e um forno a lenha,
aquele em que eu adorava, em dias de inverno, aquecer-me! Mas só ao atravessar
a porta, dando uns cinco passos para frente é que percebo a fantástica
estratégia que os meus pais aplicaram! Aquela porta principal não deveria estar
melhor adequada, pois ao entrarmos parece-nos ser uma casa vulgar mas quando
olhamos em nosso redor é que nos apercebemos da fantástica estrutura arquitetónica
ali feita! Era fantástica!
Ao desviar o meu olhar para a minha esquerda deparo-me com a “sala
de jantar/estar”. Vejo um pouco mais ao lado outra porta e mesmo ao lado dessa
porta umas escadas em caracol que davam acesso ao andar superior da casa que
era como que uma varanda interior, cobrindo toda a sala e dando vista para a
cozinha!
Decidi ir explorar! A sala que estava ao meu lado era simplesmente
soberba! Parecia que eu mesma já a teria imaginado alguma vez! Com uma lareira
gigante a sala apresentava-se frente à mesma com uma mesa de madeira de
carvalho, que parecia ter sido já usada num palácio devido à sua dimensão e aos
minuciosos detalhes que apresentava! O mais impressionante é que estava em
excelente estado, apesar de ser usada semana após semana por diversas pessoas!
Penso que os meus pais conseguiram mais do que um simples lar de repouso. Eles
conseguiram criar um lar que é respeitado! E na minha opinião, é muito
importante respeitarmos o nosso lar! É lá que passamos importantes momentos da
nossa vida, desde uma pequena conquista, a uma discussão, desde um carinho, a
um abrigo nas tempestades…que somos nós sem um lar?! Penso que nada, ou muito
pouco!
Continuei a percorrer a sala, no canto esquerdo desta
encontravam-se pequenos sofás, tão baixos que quase poderíamos dizer estarmos
sentados no chão, e à frente destes estava uma pequena mesa que eventualmente
seria para pousar o comando da TV ou um copo com bebida, ou até um balde de
pipocas para se saborear enquanto se via um filme. Sentados àquele nível era
possível termos a sensação de estar num cinema! E eu nunca estive num, apenas
os conheço pelos livros! Mas agora, poderia desfrutar do prazer tão falado de
se ver um filme no cinema! Eu tinha o Meu cinema particular! Sentei-me num dos
sofás, respirei fundo, ainda tinha muito para ver! Fitei os meus olhos no chão
e encontrei um lindíssimo tapete, daqueles que parecem vir da Índia! Fiquei
fascinada! Queria vê-lo melhor mas não me atrevi a arrastar a mesa com medo de
o estragar! Deixaria isso para amanha! Decidi ir ver o resto da casa. Ia
dirigir-me para a porta desconhecida no canto direito da sala, mas fico presa à
vidraça que me dava vista para o encantador jardim traseiro. É impossível não
prender o olhar naquele jardim…e de repente, dou conta! O vidro leva-me como
que ao passado e recordo-me do jardim da minha infância. À vista de todos os
meus vizinhos, recordo-me do dia em que baloiçava no meu baloiço, que era um
momento em que realmente me sentia bem e de ter levado com uma garrafa que
acertou no baloiço, desfez-se em cacos e infelizmente me acertou numa perna que
estava destapada pelo vestido devido ao impulso que o ar fazia. Desde esse dia
que o baloiço deixou de existir. Desde esse dia que deixei de brincar naquele
jardim…de um momento para o outro sou como que puxada para a realidade e agora
estava de novo a olhar para o pacato jardim, longe de todas as pessoas
maldosas. Sigo o percurso inicialmente pensado, sigo para a porta que parece
representar algo de misterioso pois faz uma pequeníssima abertura em forma de
trevo invisível para o lado de dentro. O que estaria no outro lado daquela
porta? Tento abri-la, mas como está perra dificulta-me a ação. Abro-a…e…
…um casa de banho! Claro! Todas a as casas precisam de um WC senão
era impossível uma pessoa estar lá! Aquelas aberturas devem servir de sistema
para a circulação do ar daquele compartimento. Não via uma casa de banho tão
original desde que fui com 7 anos ao psicólogo e o interior de o WC de lá
estava estampada cheia de caras enormes a sorrir e a olhar para mim, o que me
deixou bastante constrangida na altura! Esta era também muito original, tinha
uma banheira muito antiga pintada em cor de pérola sem qualquer resguardo para
quem tomar banho e o chuveiro que tinha um ar muito antigo, parecia ser o
chuveiro que existia na casa da avó, feito em bronze. O lavatório tinha um
espelho que estava dentro da parede, sendo impossível pegar-lhe, pois era como
parte da parede, tal como o pequeno armário que também estava no interior da
parede. Penso que esta ideia de meter as coisas incorporadas na parede foi
excelente por parte dos meus pais, pois assim ninguém poderia levar embora, já
que a casa de banho (tal como parte do andar de cima, com os quartos) não tinha
qualquer sistema de vigilância.
Vista a casa de banho subi as escadas que me deram acesso a um
compartimento que pessoalmente, achei maravilhoso: uma pequena saleta com
quatro cadeirões de pele, uma estante cheia de livros e um pequeno bar. Era
definitivamente o espaço mais resguardado daquela casa, tanto pela localização,
afastada do resto dos compartimentos e o único com quatro paredes, como pela
sua discrição. Ali parecia ser um lugar destinado apenas a assuntos
importantes!
Ainda nessa espécie de sala de culto havia ligação para um
corredor onde era possível vermos a cozinha e a entrada principal. Reparei no
grandioso candeeiro que iluminava toda a casa no andar inferior! Era feito todo
ele em metal que agora parecia adquirir uma cor ferrugenta e tinha pequenos
arcos virados simultaneamente para o interior e exterior do candeeiro. Deveria
ter pelo menos uma tonelada! Parecia ser o candeeiro de um salão de festas de
um castelo de outras eras! Fiquei a deslumbra-lo mais alguns minutos e fui
espreitar os restantes compartimentos do andar superior. Eram dois quartos: um
de casal e outro com várias camaratas. Ambos eram presenciados com uma vidraça
que ocupava toda a parede que estava defronte à entrada dos mesmos! Tinham
vista para o jardim e para o exterior. Ninguém poderia ver o interior, como era
hábito naquele lugar, pois os vidros eram refletores no lado exterior.
Tive de admitir. Os meus pais fizeram um trabalho extraordinário.
Nunca me tinha perdido numa casa. Mas nesta sim, perdi-me no seu encanto. Sim,
agora acredito, os meus pais não transformaram esta casa numa nova casa, mas
sim transformaram esta casa num lar, num lugar onde todos se sentem bem,
independentemente de lhes pertencer ou não! Eu própria que não reconhecia a
minha casa, sentia que estava nela, que aquele era sim o meu lar!
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